O DJ Mateus Medeiros, em entrevista exclusiva, conta sobre os desafios de transicionar em diferentes segmentos da música eletrônica e declara: “Me Sinto Livre Pela Minha Música e Estética”. Confira!
Em uma jornada sonora que nasceu na capital brasileira e floresceu nos vibrantes cenários de São Paulo, o DJ Mateus Medeiros emergiu como uma figura proeminente na cena da música eletrônica. Nascido e criado em Brasília, o DJ de 31 anos carrega consigo uma paixão que transcende o convencional, repleto de influências que vão desde o Disco House até o Techno mais intenso. Em entrevista exclusiva ao PLUGtronic, Mateus demonstra desenvoltura e repertorio ao revelar detalhes de sua carreira, e como foi o movimento de transição entre cenas diferentes dentro da música eletrônica.
Confira abaixo:
Vamos explorar os seus primeiros passos na música eletrônica. De onde veio o insight que você escolheria os palcos como profissão e quais foram os momentos que o inspiraram a se movimentar nesse sentido?
Eu cresci em um ambiente extremamente musical, meu irmão mais velho era baterista em uma banda de rock. Já na minha adolescência eu consumia a boa e velha house music. Não demorou tanto para já começar a frequentar festas e festivais de música eletrônica por todo o país com os meus amigos e fui me apaixonando, me aprofundando mais na música eletrônica. Poucas pessoas sabem, mas com 18 anos eu cheguei a tocar em algumas festas em Brasília mas na época eu não tinha maturidade suficiente. Já com 26 anos senti que precisava voltar a tocar, então decidi fazer um curso para me aperfeiçoar e poder voltar. Vale destacar que sempre tive muito apoio da minha família em geral e com certeza isso me deu mais força para seguir com meu sonho.
Você também conseguiu realizar, de forma gradual, a transição entre cenas distintas, e migrou da cena tribal a altenativa nacional, que engloba desde disco house até o techno. Em que contexto houve esse processo de transição de cena? Como você construiu sua identidade musical e estética de trabalho, mesmo caminhando entre nichos distintos?
Muita gente me pergunta porque eu decidi voltar a tocar no tribal e acredito que eu estava em uma época onde eu frequentava muitas festas (de tribal) então todos os meu contatos com produtores de festas, DJs, promoters eram dessa cena. Isso contribuiu muito para que eu retomasse minha carreira nesse meio. Houve uma época da minha vida onde eu investi muito do meu tempo na cena tribal. Há 10 anos o cenário era absurdamente diferente do que nós vemos hoje em dia, a música era mais progressiva, limpa e as referências dos vocais eram outras. Os anos se passaram e o cenário foi mudando, as músicas foram ficando mais “pesadas”, as festas também. O público também foi mudando e junto com todas essas mudanças o meu interesse pelo som e pela cena tribal foi se perdendo, então fui literalmente perdendo o “tesão”. Isso foi me fazendo mal, afinal, sou DJ, completamente apaixonado por música eletrônica. Eu vivo isso todos os dias da minha vida, é algo que corre nas minhas veias.
Falaremos sobre suas referências musicais desde o início de sua carreira até agora. Como você percebe a evolução criativa na música eletrônica, e como incorpora elementos diversos em sua expressão artística?
Desde o início da minha carreira eu fiz alguns projetos de House e Disco House, tocava em pequenas festas em Brasília, mas na época era um som pouco explorado. A minha transição de cena foi feita de forma muito gradual: eu não poderia simplesmente parar de tocar tribal, para começar do zero em outra cena, com outro som, novo público e novos contratantes. Quando eu decidi me mudar para São Paulo eu vi que eu tinha um mercado onde eu poderia me expressar através da minha arte e isso me deu um ânimo. Percebi que era o momento de recomeçar (mesmo perdendo datas, dinheiro). Infelizmente hoje em dia existe muito preconceito (de uma cena com outra) e esse foi o maior desafio para mim. Estava lutando por respeito e oportunidades na cena em que eu estava entrando. Hoje, com muita dedicação, profissionalismo e confiança, eu consegui finalmente fazer essa transição, consigo fazer um som extremamente criativo, consigo pegar minhas referências do House, Disco, Indie Dance, Techno fazendo um som único, animado e dançante para a minha pista e meu público. Agora me sinto realmente livre para me expressar não só pela minha música mas também pela minha estética. Jamais vou olhar para o meu passado com arrependimento, o tribal me ensinou muito, me fez rodar o Brasil tocando, conheci muita gente legal mas a grande verdade é que eu sempre fui um peixe fora d’água, sempre fui o DJ com o som e visual diferentão e isso me limitava tanto ao ponto de eu ter que adaptar meu som e minha imagem para algo mais “comercial” para crescer e para ser bem sincero não existe nada mais triste do que você reprimir o trabalho de um artista conceitual para algo comercial. O grande segredo da arte vem justamente da liberdade e não da limitação. Eu gosto de pensar fora da caixa, eu gosto de surpreender, de dar para as pessoas o que elas nem sabiam que queriam escutar e é exatamente isso que eu busco fazer com meu som.
Como sua formação em arquitetura e paixão por moda se entrelaçam em sua abordagem artística?
Sempre digo que música, moda e arquitetura são as paixões da minha vida, eu sempre gostei de me vestir bem e acompanhar o mundo da moda, estudei arquitetura e urbanismo na faculdade e acabei virando DJ por paixão, mas sempre consegui usar muito desses outros universos dentro do meu trabalho. Tanto a moda quanto a arquitetura também são formas de expressão assim como a música, ambos querem comunicar algo, uma roupa não é simplesmente uma roupa, a maneira como você se veste fala muito sobre você e sobre o que você quer passar, como você quer se expressar e a arquitetura nada mais é do que a função ligada a intenção, a arte, é sobre tornar o mundo melhor, mais belo e também mais funcional. Meu processo criativo para as 3 áreas são muito parecidas, sempre fui muito nostálgico e sempre gostei de revisitar o passado, olhar para o presente e disso criar algo novo para o futuro. O passado jamais pode ser deixado de lado porque é olhando pra trás que lembramos onde erramos e onde acertamos. Sempre carrego essa filosofia comigo e passo muito isso para o meu trabalho como DJ.
Quais são os sonhos relacionados à sua carreira ? Podemos esperar colaborações emocionantes em suas futuras produções musicais?
Tenho um longo caminho pela frente, quero voar muito alto, tocar em muitos lugares ainda, conhecer muitas pessoas e serei plenamente feliz podendo viver da minha música e levando muita alegria pelo mundo. Tenho preparado algumas novidades e ideias para novas parcerias, venho estudado bastante e com certeza vocês vão acompanhar muitos lançamentos em breve!
Ao final, exploraremos as conquistas das quais você se orgulha até agora e suas perspectivas para o futuro da música eletrônica brasileira. Como você enxerga seu papel na evolução contínua desse cenário?
Me orgulho do meu trabalho como um todo, acredito que minhas maiores conquistas vieram dos meus maiores desafios. As minhas gig’s são grandes conquistas! O que realmente me faz realizado é arrancar sorrisos, gritos, arrepios por onde eu passo. Você não tem ideia quão gratificante é estar tocando 8h da manhã, depois de quase 9 horas de festa, virem até mim dizendo que não conseguem ir embora. Acredito muito na cena nacional. Nossos DJS e nossas festas são incríveis e percursores em muitos aspectos. Eu tenho muito orgulho de fazer parte de tudo isso. Para o futuro, quero poder somar, trazer novas sonoridades, sempre tentar surpreender e contribuir com a cena ao lado dos meus colegas com muito respeito e profissionalismo acima de tudo.